Depoimento Cândida Araújo, Livro Você faz parte desta história

A “hipocrisia” do Mala 

O José Carlos era um membro do nosso grupo. Na verdade, ele continua no grupo do Ricardo, mas não mais trabalhando diretamente conosco. E foi ele quem me convidou para participar do grupo de apoio ao Ricardo Teixeira. E o José Carlos tem vários apelidos: “jiboia”, “chato”, mas é mais conhecido por “Mala”. E ainda é o marido da minha sogra.

Uma vez, lá por volta de 2004, fomos fazer um treinamento num sítio no Vale do Ribeira, toda a equipe de apoio do Ricardo Teixeira coube em dois ônibus. Era um curso para incentivar as pessoas a trabalharem em equipe. E o Mala estava junto, também ia fazer o curso. A gente ia brincando no ônibus.  De repente, dentro do ônibus, o Mala começou a passar mal, ele tem problema de hipoglicemia. Todo mundo brincando, zuando, e ele passando mal, sem que a maioria notasse. O Jadir percebeu e ficou desesperado, porque ele começou a tremer e não falava nada. Eu não estava perto dele, mas ouvi alguém falando: “o Mala está passando mal”. O Jadir veio falar comigo, “o que a gente faz?”. Eu falei: “calma, ele tá com hipocrisia, é só dar uma bala ou alguma coisa doce para ele comer, que já passa”. Aí virou uma palhaçada porque eu falei “hipocrisia”. E o pior é que ninguém tinha nada doce, nenhum lanche, nenhuma bala para dar a ele. Quem salvou o Mala foi o motorista. A esposa dele tinha embrulhado um pedacinho de bolo para levar na viagem. Foi o motorista quem deu o pedaço de bolo para o Mala e ele melhorou. Mas foi um susto. Depois ficou essa brincadeira com ele, todo mundo falando que ele tinha “hipocrisia”. Agora, toda vez que eu encontro com ele, eu brinco: “você tá com hipocrisia, precisa chupar uma bala”.

Candida Maria Araújo Silva Ochoa, a Candinha, é líder comunitária na região de Itaquera